Ontem, eu não era ninguém. Uma reflexão sobre o Dia da Mulher:

poster-dia-da-mulher-1014

Poster alemão de 1914 em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, conclama o direito ao voto feminino. Créditos: Wikipédia.

por Luísa Santos/Agência Pixel

Ontem, para poder ser alguém, eu tinha a obrigação de ser bonita, desejável. Ontem, eu tinha a obrigação de ficar quieta, saber meu lugar, ser independente mas depender de um homem para me validar, ser inteligente mas não mais que qualquer homem, me dar ao respeito – ontem eu deveria ser quieta, recatada, delicada, impassível, maleável, subjugada, oprimida, violentada, calada. Silenciosa. Ontem eu era o “Outro” em face do “Um”.

Hoje, magicamente, eu sou perfeita do jeito que eu sou. Hoje mereço homenagens, mereço músicas, mereço agrados e carinhos. Hoje sou a melhor criação divina. Hoje me deram flores lotadas de espinhos. Elas furam meus dedos, e amanhã, eles me culparão por sangrar. Demos flores de boa vontade, dirão. Você que não soube lidar com elas!

Amanhã volto a ser ninguém, mas não descansarei, não descansaremos. Ninguém em sã consciência aceita flores com espinhos. Não aceitaremos homenagens impensadas, malfeitas, distraídas, porcas, cruéis, hoje não é dia desse veneno disfarçado de admiração por um destino que jamais desejariam a si mesmos. Hoje é dia de luta, amanhã também, ontem também foi. Eu não sou o outro – eu sou, apenas, o que eu bem entender. Amanhã, eu não aceitarei esse lugar imposto. Amanhã, a minha existência não será condicionada à vontade alheia. Amanhã, eu serei o “Um”.

Amanhã, a vida grita. E a luta continua.

E um feliz dia da mulher 2015.

Deixe um comentário